O caminho era coberto pelas ramagens das árvores seculares e estava escuro. Os passos eram curtos porque o silêncio não deixava que o vento afastasse uma alma. Os passos eram curtos para ficarem cravados no chão daquela terra. Os passos eram curtos, porque a noite permitia a espera. E lá estava sem relógio e sem tempo.
O tempo devia sempre parar quando os passos se encurtam. Os relógios deviam dissolver-se sempre que o tic-tac deixa de se ouvir.
Parado, quieto, sossegado, de pé, com um sorriso enigmático e mais qualquer coisa.
Saber interpretá-lo era saber entender uma ave a chorar, era saber sentir a finitude dos momentos.
Alguém também sorria, para retribuir, e sentia-se pequeno naquele mundo colossal e complexo e sentia-se protegido e bem e tranquilo. Era a mistificação do oculto, era a mestria das horas, era o significado do belo… tudo unido numa só ramagem de árvores e num só caminho de pó.
O pó não devia cegar-nos.
Os braços enlaçaram-se como outrora e os sorrisos alienaram-se para sempre. Os passos continuaram pequenos, dois a dois, e o caminho permaneceu escuro e mágico pela noite.
Somos feitos de finito. Eles de infinito.
P.S. Uma vez alguém dizia qu eu escrevia em sépia. Um sonho.