quarta-feira, maio 04, 2011

Intervalo


Os livros continuam numa pilha enorme à espera de tranquilidade para os ler. As palavras continuam na cabeça a uma velocidade atroz, que tonteia todos os pensamentos quotidianos. Ultimamente, tem sido assim. Encontro-me estonteada, com mil palavras para dizer, mas com falta de apetite para dizê-las. É tempo de silêncio. E de ecos. Gosto de escrever nos intervalos dos silêncios e dos ecos: viro-me para lá e grito, oiço-me, não oiço nada, escrevo até ouvir o silêncio a perturbar-me, volto a gritar, volto a ouvir o meu eco, escrevo mais palavras até o silêncio voltar a mim. Gosto disto, faz-me variar os pensamentos, como se fossem razões esquemáticas de uma vida com tanto significado. As palavras são a minha voz, mesmo que escritas. Por vezes roucas, por vezes tímidas, por vezes luminosas, por vezes caprichosas, por vezes tristes, por vezes amorosas, por vezes tu, mas sempre eu. Sempre, sempre, eu. Por mais que finja e que me debata com o que me envolve, transpareço sempre o intervalo que existe entre um eco e um silêncio. Eu percebo-o bem. Estou habituada a estudar intervalos mais infinitos que este. Por isso, não é difícil. Só o é se a sensibilidade estiver adormecida. Quem não sabe de mim, não o sabe. E quem sabe de mim, talvez o saiba. Assim, eu acredito.

P.S. *Entre ecos e silêncios saiu este texto.