quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Borboleta invisível


Via-te pousar com leveza no fundo daquela rua com cheiro a mar. O vento era frio e eu começava a gostar de saber que todos os dias iria olhar para o semblante azul que morre na areia da vida. Havia poucas gentes naquela foz. E estava Sol. Um Sol de Inverno, saboroso, o que mais gosto de sentir e tactear. Continuava a perseguir-te com o olhar. E via o rumo que levavas. Era-te tudo favorável e as nuvens longe apareciam. Não estavam muito carregadas e quando chegassem, depressa azulariam. Era nisto que acreditava e, eu sei, que sonhava.

Inesperadamente, Deus quis que aquela borboleta branca desaparecesse do meu olhar. Não me distraí com nada: absorvia tudo em igual proporção; simplesmente, ela parece se ter tornado invisível. Procurei-a enquanto caminhava a ouvir os passos do mar. Perguntei a quem por mim se cruzava se a tinham visto e ninguém a conhecia. Só eu e aqueles que em mim acreditavam.

Com a inocência dos dias, comecei a ponderar a existência da transparência também nas borboletas. Elas tornam-se invisíveis quando percebem que alguém as quer muito admirar. Se essa vontade perdurar, ela acaba por aparecer de novo e perde a sua capacidade de se metamorfosear. Se tal acontecer, ela permanecerá para sempre junto de quem a quer com as suas asas brancas a bater palmas e a sua voz a parafrasear não desistas.

Ainda não a voltei a ver. Mas oiço o bater das suas asas e a sua voz. Por agora também me encontro invisível.

P.S. Lord... Hold my hand...

http://www.youtube.com/watch?v=MwyH_N1YVNo&feature=related