sábado, dezembro 27, 2014

Balança sem medida

Não tenho uma balança que me pese o que foi bom e o que foi mau. Sei apenas que estive nos dois pratos.

O que foi mau doeu muito e há dores e estados que ficarão para sempre intrincados em todos os nossos ossos.

O que foi bom, foi muito bom. Foi o estudo da personalidade, as viagens a Espanha, o trabalho, os dois graus, os concertos. Fui feliz no desafio dos 100 dias e também este ano escrevi mais.

O próximo ano é ímpar e eu gosto de números ímpares.

Há quem me faça rir. Há quem me faça não pensar. Há o que há e só eu sei que há.

2015 sê gentil comigo e faz com que eu seja gentil comigo própria.


P.S. Tem vez que as coisas pesam mais/Do que a gente acha que pode aguentar/Nessa hora fique firme/Pois tudo isso logo vai passar/Você vai rir, sem perceber/Felicidade é só questão de ser...  https://www.youtube.com/watch?v=s2IAZHAsoLI

quarta-feira, novembro 12, 2014

Paralelismos

É o perto e o longe. Os sonhos que dizem sim. As realidades que dizem não. O meio que fica por acabar. As saudades das viagens à procura do espaço, a esquecer os costumes. O direito da vida, da felicidade. O primordial artigo que falta, que me escapa em cada gole de respiração. O tempo que passa, passa, passa e deixa os pés frios. Para que não se possa andar. Para que a imobilização seja para sempre.

É o eu e o tu. Os caminhos que são paralelas. A neve que cai e me procura, o sol que brilha e te afasta. Leve, como a brisa, deves ser. Desapareces num rompante sem antes ter tempo de sorrir. E a cara séria volta. E as mãos vagueiam pelo ar. Os pulmões suspiram. Anseiam por parar de novo a respiração.

Mesmo com os pés frios, mesmo com as mãos a vaguear, o coração continua.


A bombear os mesmos sonhos de outrora.

P.S. Ouvir ao vivo tem outro sabor, mas não deixa de ser bom.https://www.youtube.com/watch?v=-_2HyXODMg0

terça-feira, outubro 07, 2014

Tenho andado uns minutos antes do tempo acontecer

Tenho andado uns minutos antes do tempo acontecer.

As janelas sempre fechadas, para este “aqui” poder ser um sítio onde o tempo não aconteça. Onde haja a ausência dele, a vontade de ser silêncio e só (com pensamentos).

O mesmo acontece quando se olha vazio. Quando por momentos se perde a noção do quando, mas se ganha a noção do espaço. Tento entender este novo espaço. Despido de passado.

Tenho-me esquecido tanto dele, porque não há tempo nem espaço para que renasça em mim ou se lembre que ando por aí.

Revestido de paredes brancas de futuro.

Tenho-me lembrado tanto dele, porque há o espaço e o tempo são de futuro. Porque o que se faz é na “fé” de uns dias melhores, com a primazia do valor humano e intelectual reconhecido. Pelo que baste.

Com mais ou menos barulho vou conseguindo adormecer com sobressaltos do que vem por aí, do que me espera. É aquele medo próprio intrínseco à condição tempo.


Quando não há tempo, não há medo. E eu tenho andado uns minutos antes do tempo acontecer.

P.S. Não há mais palavras. https://www.youtube.com/watch?v=4PJ-dgnK-Ok

quarta-feira, setembro 03, 2014

Um teste

O tempo é isto. Uma sequência de imposições. Dos outros e tuas. Imposições sem liberdade. Cada vez os graus ficam menores. Por mais que não queiras ser do padrão, há o modelo. O melhor modelo de entre alguns. O modelo que os números dizem que é esse que se adequa (a ti?). 

Mas, e se… ? (interrompem os sonhos)

Não podes perguntar.

Mas, eu quero perguntar.

Quero inventar um novo teste que me faça sempre rejeitar todos os modelos. Todos os modelos que idealizam para mim. Todos os modelos que idealizo para mim.

Quero. Apenas. O simples. Apenas. O fecundo. Apenas. A paz. Apenas.


Quero. A mim. Própria. Sem floreados. Com as asas de uma andorinha que migra. 



P.S. *Quero acreditar que os que partem para se tornar estrelas o fazem para iluminar os que continuam, num altruísmo puro.

sábado, agosto 23, 2014

Que beleza há numa poesia que fala por si?

Que beleza há numa poesia que fala por si?
Num si de uma escala harmónica.
Num dó que dói por ti.

Não há métrica que seja ouvida.
No semblante que vejo longe.
Houve um dia que sonhei ser prosa em poesia lida.

E o sonho ficou em vão.
No meio da nostalgia.
Não me peças para dar o pão,
Quando és semente todo o dia.

E vou ficando calada
Para os que não querem sentir.
E vou ficando mais longe,
Do fim que minto para mim.

P.S. Este poema teve como inspiração o filme "O Clube dos Poetas Mortos". https://www.youtube.com/watch?v=ovyfbirtPLs&noredirect=1

segunda-feira, agosto 04, 2014

As estrelas

Não sei de quem é a culpa. Gosto mesmo de imaginar que seja das estrelas. Que iluminam histórias que querem. As que não querem mudam de cor ou fundem a lâmpada.

As que dormem por cima de mim ainda não perderam o brilho. A miopia que tende a crescer faz-me vê-las desfocadas. Ficam maiores e parecem aquelas fotos com luzes às bolas.

Gosto de imaginar que estas estrelas, que escolhi como minhas, saibam que têm mais para me mostrar. Mesmo que eu continue a acreditar no meu mundo, mesmo que me digam que não é bom ser assim. Pouco me importa.

Não me peçam para ser das massas. Iria odiar estrelas que brilham para todos. Iria odiar ser reconhecida por milhares. Só quero as que são minhas. E talvez alguma que seja tua. Para já.

São estas estrelas que me vão levar ao privilégio. De amar. Privilegiar e ser privilegiado. Inventar uma palavra que seja sempre e repeti-la as vezes suficientes para ser tão sentida.

Não faz sentido não sentir.


Elas lá sabem o que querem ver brilhar. As estrelas.

quinta-feira, julho 03, 2014

Ele és tu


Ele és tu.

Com o olhar misterioso. Com os pensamentos a mil. Com a barba por fazer. Com a chuva miudinha a molhar a roupa. Com a vontade de ir.

Ele és tu.

Mesmo que não mo tenhas dito. Mesmo que tenha sido em vão a fotografia do teu rosto. Mesmo que tenhas esquecido o sítio para onde olhavas.

Com uma certeza meio incerta.

Ele és tu.

E eu ali, aqui, analista de números e de fotografias. Técnica das luzes, dos espaços, dos tempos. Intérprete de perguntas (que esta imagem me faz, que quero fazer).  

Que cores antigas queres tu que te descubram em ti? Quais os lugares que te fizeram felizes? Quais os lugares que te prostraram o rosto na terra? Lugares humanos, sentidos, inanimados? Que tempos houve em que te deixaste ficar na simples magia de parar tempos?

Isto é ir mais. É ir aos teus heróis. É ir ao que és tu.

A tua mochila vai meio cheia, meio vazia. De tudo. De nada.

Um bolso eu já abri. Nos outros estão mais perguntas, estão mais respostas à espera de serem perdidas e encontradas.


Ele és tu. Assim. 

domingo, junho 22, 2014

O Senhor Ser Feliz

Há uns pedaços de tempo pediram-lhe para desenhar o amor. Pensou e sentiu tudo ou não sentiu nada. Deixou a folha em branco. Eu não entendi na altura. Para mim foi uma dinâmica fácil. Hoje, depois de já ter ontens, compreendo tão bem o significado. Aquele que é dado a um dos ângulos do amor.

Dá-se a mão a quem nos faz bem.

O amor anda de mão dada com o ser feliz. São seres diferentes, mas complementam-se e, ao mesmo tempo, abarcam-se um ao outro. Em linguagem matemática, o amor pertence ao ser feliz e o ser feliz pertence ao amor. O “e” assume o sinal mais.

Nestes conjuntos o espaço que os rodeia além da fronteira é lato. Nele podem haver imensas constelações. O amor e o ser feliz vagueiam de mãos largadas na liberdade que os caracteriza. Andam por lá a captar corações. São verdadeiros estrategas e cansam-se quando não há objetividade.

Ouvem muitas vezes que se isto ou aquilo acontecer é que se vai ser feliz. O ser feliz não gosta que se pense assim no futuro, sem que se perceba o que há hoje, o que há hoje que nos faz felizes. O amor não gosta que falem isso, porque ainda não sabe lidar com o amanhã. Apenas gosta de pela manhã abrir os olhos devagarinho e sentir que está Sol, que o coração permanece tão grande.

Quando há quem esteja nesta sintonia do agora, as mãos são dadas a três. De cada um dos lados vai o amor e o ser feliz. No meio, a simplicidade de uma folha branca com a dimensão infinita de ser preenchida à medida, à forma de cada um.


Tudo o que é branco tem espaço para ser feliz.

terça-feira, junho 10, 2014

Óculos à Warhol

É em dias como este que eu queria uns óculos diferentes. Ao invés de ver melhor, com mais nitidez o mundo, via-o com outras cores e com um astigmatismo pop.

As lágrimas a correr passariam a sorrisos. Os pensamentos monocromáticos pretos passariam a optimismo puro.

Para quê a canseira destes tempos? Para quê a vontade de querer fazer mais e melhor? Para quê não guardar trunfos até, até à última, última jogada?

Se hoje sair à rua com os meus óculos, vou ver tudo pior. Seres humanos sem tecto, sem comida, sem alma. Ares poluídos física e psicologicamente. Falta de inteligência. Filhas-putices na esquina da rua da louça ou nas outras a seguir, a seguir.

Ontem, ofereceram-me uns óculos usados. Década de sessenta. Traziam como inscrição: “usar quando precisares de sonhar”. Não os experimentei. Por isso, fiquei surpresa quando hoje me vi neles. Fiquei bonita e com as faces ainda mais rosa.

À minha volta tudo ganhou umas tonalidades azuladas, amareladas, de desenhos animados requintados, como se todos estivessem no seu direito de “5 minutos para a fama”.

Eu não quero ter fama de vedeta. Quero ser apenas eu, eu mais, eu melhor, eu crescer. É para isto que vou continuar a ir, ir. E agora melhor acompanhada.

Os óculos já estão na minha mala.


P.S. O Andy Warhol teve uns óculos destes e via o mundo bem mais bonito. Não andava sempre com eles, para não cansar os olhos. O modo de prescrição já foi dito.

sexta-feira, junho 06, 2014

sábado, maio 31, 2014

Reinventando

Reinventado Guernica de Picasso...

...

Precisamos de uma Guerra. 

Uma Guerra de Homens. 

Homens iguais a ti e a mim. Homens que gostem de lutar com armas diferentes. Homens sem medo de colorir o mundo, de transformar o sangue deste Guernica em abraços demorados. Homens que não gostem de pisar seres, nem tenham uma capa vermelha à espera de touros para matá-los. 

Precisamos de uma luz. Igual à do quadro. Uma luz que tudo vê e que nunca perde o brilho ou fica fundida. Uma luz que faz das bocas abertas de gritos, bocas que entoam uma palavra de ordem. 

Hoje a Guerra começou.

Vejo-te sem o escudo ao peito.

A Paz está a chegar.


terça-feira, maio 13, 2014

Nascer é muito mais

Nascemos pelo simples ato de alguém ser amor. Perpetuamo-nos no tempo e adormecemos. Na manhã seguinte, somos nós a nascer de novo. Espreguiçamo-nos e olhamo-nos. Há dias de luz, outros de escuro. O espelho reinventa connosco o nosso rosto. Todos os dias nos vê diferentes.

É um ser inanimado que apenas nos mostra o que queremos ver. E quem vê mesmo de verdade, sabe e sente que nascer é muito mais do que o nosso dia de anos.

Nesse dia, ficámos feitos de pós celestiais de uma supernova. Nascemos com a explosão de estrelas e logo em breve morremos na invisibilidade das partículas. Nasceremos de novo com outra explosão até perdermos de novo a luz.

Neste zig-zag do nascer percebe-se claramente que tem que haver uma fonte de energia. Será o sol? A lua? O vento? A maré?

Será esta última desconstruída. “Amare”, como se lê. Amar, como se escrever. O nosso início foi feito disto. E se nascemos de novo é porque amamos coisas na vida, coisas que cada um sabe e sente.


Nascer é muito mais do que o nosso dia de anos.

P.S. Esta fala-nos de como nascemos, dos pós celestiais que temos: https://www.youtube.com/watch?v=iQJ6hjJtf6Q

quarta-feira, maio 07, 2014

Procuro-te

Procuro-te neste barulho. Neste ressoar de motores de carros, de passos apressados, de luzes incandescentes, de ondas de rio a bater nas margens, de prédios altos, de vento a despentear-me os cabelos.

Procuro-te com a ansiedade óbvia de querer paz. A serenidade transforma-nos e leva-nos ao nosso primeiro estádio no mundo.  

Procuro-te dentro de mim. Neste enorme coração que tem um ritmo próprio, no toque de anéis nas minhas mãos, nos meus pensamentos e sorrisos.

Procuro-te. Procuro-te.

E não te encontro.

Mesmo fechando os olhos, mesmo tentando telepatia, mesmo rezando. Mesmo à noite, bem antes de adormecer, oiço pássaros noctívagos.

E não sei como és.

Talvez sejas um frio, uma ausência de cores ou a soma de todas elas. Talvez tenhas ficado suspenso no início do mundo para que ninguém te pudesse conhecer. Talvez Deus tenha sido egoísta e tu sejas o Paraíso.

Já pensei subir a montanha mais alta e procurar-te lá do alto. Quando se vê o mundo inteiro, ainda haverá algo a escapar-nos?

Não sei quando te irei encontrar. Sei que vou continuar a sonhar contigo. A querer-te a apaziguar o que sou.

Não sei onde estás. Sinto que existes e que andas por aí. Vou começar a procurar-te no singelo.

É o silêncio que quero encontrar.


P.S. Não há música, porque o silêncio hoje não se quer expressar assim.

domingo, abril 13, 2014

Tenho-te sonhado

É como se falasse italiano ou francês, que é como quem diz, são as línguas que utilizo para os sentimentos. Ficam registados com outra fala para que bom entendedor não entenda. No entanto, há o Português que teima em traduzi-los e quando a tradução acontece, há o corrupio do medo. Tal e qual como naquela peça de teatro, onde as aias se confundem com as princesas e os salteadores com os príncipes.

Tenho-te sonhado com a primazia do ser. Tenho-te sonhado poliglota dos sentimentos, adivinhador de teatros mal encenados. Talvez seja eu a crítica das falas, a pedir que se tenha alma nas personagens, a pedir para tocar quem nos ouve. Arregaço as muitas saias e corro até me sentar com um leque. É a vez de te ouvir. Para meu espanto, esqueces as falas e improvisas. Sabe bem ouvir-te.

As luzes vão variando e as formas desenhadas nas paredes transportam-nos para o sonho. A música entrelaça a realidade reduzida com a aumentada. Pareço ser especial por presenciar tal peça. Gosto disso e gosto deste tempo que dou ao conhecimento de quem vale a pena. Gosto deste lado artístico da vida, das integrações e das desintegrações, destes jogos de amor.

Parece que falei Português. Aplausos.


P.S. Escolhe tu a música. 

sexta-feira, fevereiro 28, 2014

À avó

Os tempos já não eram fáceis. O cérebro há muito que se comprometia com o presente e o futuro já nem existia. Vivia, porque tinha que esperar pela hora. Aquela hora marcada num dia de chuva.

Sei que gostava de mim, mesmo que nestes últimos anos já não soubesse com toda a certeza o que eram sentimentos. Eu também gostava dela à minha maneira. Pelos doces de criança, pelas faces rosadas iguais às minhas, pelo feitio também tão idêntico. Era querida e alegre.

Lembro-me de lhe dar catequese ao sábado. Lembro-me de ela adormecer a rezar o terço. Lembro-me de ela comer às escondidas. Lembro-me de ela desejar a outra vida algumas vezes. Lembro-me do cantor favorito dela. Nas últimas conversas perguntei-lhe se ela sabia quem era Deus e se ele existia. Disse-me que sim às duas.

Hoje foi o final da vida dela. Aquele final que não se aprende na escola, nem em nenhum dos contos que lemos por lá. Hoje enquanto ouvia o Padre, achei que não fará mal acreditar no que ele disse. Acreditar que a vida é uma poesia e que neste fim começamos uma nova vida. Deixamos de viver numa tenda frágil e passamos para uma casa segura.
Hoje acredito nisto. E acredito que Ele te acolhe por sempre acreditares. A fé é isto mesmo.

Desculpa a distância em tudo. Quando crescemos ficamos assim. Parvos e egoístas.

Aí do céu, lê poesia para mim e reza por nós e por um mundo feito de Homens de coração.

Eu vou continuar a minha corrida de miúda à procura de um caminho feliz.

domingo, janeiro 26, 2014

A diferente chuva

O meu cabelo ficará molhado. Não do banho, mas da chuva de ideias que lá fora espreita para cair.

Hoje não é só mais um dia. Hoje há poesia lá fora. As luzes das aldeias abrem-se por entre os cortinados transparentes.

Ninguém adivinha que hoje a chuva será diferente. Enrolo-me nas mantas deste inverno frio e espero pelo sinal. Deambulo nos meus sonhos e na exigência que tenho para mim. Sou alheia ao enredo e faço a minha própria história.

A estrela bateu-me à janela. Saio com pés de lã e deito-me na relva verde à espera que esta chuva caia. O meu cabelo brilha, os meus olhos transformam-se em luz e o meu coração fica enorme.

Vejo o ano passado correr-me nas veias, com todas as coisas boas que me aconteceram, com todo o crescimento que tive. Sou mais, tive mais, aprendi mais, dei mais. Foi um ano de realizações. Os concertos, as viagens, os teatros, as fotografias, os olhares, os toques, as partilhas, os sabores, as essências, os trabalhos. Por fim, a pequena S. que terá um lugar diferente e novo neste caminho.

Sinto que alguém se deita ao meu lado, ainda que invisivelmente. Diz-me para continuar com a mochila às costas e com os sonhos que crescem. Diz-me que terei companhia e que o caminho nunca será egoísta. Diz-me para escrever e não ter medo que os outros leiam a minha alma. Desaparece de mansinho e eu volto à janela. A estrela diz-me adeus e até breve.


Acredito que seja alguém sábio e eu gosto de sabedoria.