domingo, julho 24, 2011

A árvore da vida


Esboços de um tal filme que estremece cá dentro e parte bocadinhos de cada ser pessoa… “A árvore da vida” ou "um ensaio da existência humana (des)protegida".

Muitas imagens. Muitos pensamentos. Muitos anos de história. Muitas marcas. Tudo veloz e estonteante. Do cosmos à vida terrena e à eterna.

Ela dançava com pés de lã e falava para dentro, para si. O ar era dócil e frágil. Gostava de voar e de sonhar e de amar. Sentia-se grata e com graça. A natureza era a sua mãe e o céu o seu pai. Também havia outro pai. Outrora músico e com sonhos. Agora mau. O bem e o mal corriam atrás um do outro. Onde um existia, o outro espreitava também para existir. Cabia ser feita uma escolha pessoal e, quem sabe, uma escolha universal.

A imagem de piedade dos dois dinaussauros, em que eu poderia ser um e tu outro e em que poderíamos trocar de lugar e ficaria tudo igual. A morte à porta e um adiar dela. Um meteorito a extingui-los e a música de uma nova vida a nascer numa terra perdida neste universo. Chuvas que corroem montanhas, vulcões que incendeiam a existência.

O perdão. O choro agudo de uma perda. Um irmão que magoa o outro, sem saber bem porquê. O choro agudo de um irmão que confia. O perdão outra vez. E a mãe queria tanto que eles fizessem o bem, que se amassem, que se deixassem levar pela água da vida e pela luz que teima brilhar todos os dias. A perda da inocência e a realidade a doer cada vez mais. Crescer, é preciso crescer tal como uma árvore e uma cobra.

Pulos de felicidade e liberdade. Um elevador que sobe para nos levar ao reencontro dos que amamos. Um lugar tranquilo que acolhe. Que tem vento que faz esvoaçar os cabelos e as mãos. Abraços demorados e lágrimas sentidas. Sorrisos, muitos. O perdão outra vez. A entrega de uma vida a um mar que leva consigo a areia de que somos feitos. O tanto que poderia ter dito e o tanto que não sabia até este fim. Um lugar onde o fim é o início. O início do amor. O início da paz. O início da reconstrução. O início do mal pelo bem. Ali… à nossa espera… um dia.


Com luz. Sem luz. As dúvidas permanecerão para sempre. Ainda assim, faço o meu caminho pelo meu bem, pelo teu bem, pelo bem de todos.

domingo, julho 17, 2011

um


Quis ser imprevisível e quis ser eu a fazer surpresa no primeiro momento. Acabei por sorrir muito de forma tímida com as palavras que lia e que contavam o tempo até aos meus passos se ouvirem. Depois, veio um envelope envolto em segredos que de alguma forma previam o futuro, como se as palavras pudessem ser adivinhas. Eram pequenos pedaços de mim e que te oferecia ali para guardares bem em ti. O vento começou a sentir-se em cada poro de pele e era preciso um pouco de calor. A lua nascia e sorria para nós como uma pintura no céu. Um céu azul com uma esfera brilhante onde se via o lado visível da lua com mares de imaginação. Ficou bem como foto. Estava frio outra vez e eu adivinhei o teu pensamento não por magia. Primeiro eram dois sofás, depois um. E é o número um que marca o início de criatividade, de conversas, de óculos pousados numa mesa, de mãos entrelaçadas, de toques de contiguidade e de beijos com pequenos sorrisos. Guardámos outra foto. A noite acabou com saudades e o dia trouxe pedido de histórias. Conta-me histórias, foi o pedido. Um dia iremos encontrar o tesouro que existe no fim de um arco-irís e iremos inventar uma nova constelação, com aquela forma e com aquele sorriso. E a finitude deste universo tenderia, aí e para sempre, para mais infinito.

Ss + oo.

domingo, julho 10, 2011

A história II


Um esboço do plano de outra parte da história…

Voltei a pensar na história. Desta vez detive-me nos pormenores do interior. Os elementos iniciais serão a água, a terra, o ar, as árvores, as flores, os veados, as borboletas, as pedras. Cada um com o seu significado. A água pelo frio e pelo corte da distância. A terra pelo chão que pisamos. O ar pelo bem-estar das caminhadas. As árvores por esconderem segredos. As flores por serem o perfume da história. Os veados pelo pretexto de os ver e sentir mais. As borboletas por voarem desejos. As pedras nos sapatos e no caminho.

Foram manhãs disto. Enquanto caminhava ouvia pássaros a cantar. Percebi que cantavam “River flows in you”. Era melodiosa e deliciosa esta música. Fazia-me sonhar o infinito e fazia-me agarrar o presente. Era um sorriso sem medo. Era uma protecção sem igual. As palavras eram ocultas e os pensamentos claros. As vozes sussurravam pequenos silêncios. Havia risos, muitos risos. Advinha-se algum tipo de vínculo. Percebi, mais tarde, que seria um livro com quatro histórias em quatros tempos diferentes e com quatro formas de sonhar e de mar. A par disso, o vento batia-me com leveza na cara e eu fechava os olhos e pensava que tudo aquilo ia ser para sempre.

quarta-feira, julho 06, 2011

A história


Prometi que hoje ia escrever. Ia começar a contar uma história, que desde há dois anos a quero escrever. Uma história pequenina e grande, com sentidos e significado, com palavras e silêncios, com ternuras e distâncias. Já sei como será o início e o fim. O início será o normal e o fim o anormal. As antíteses numa história são sempre importantes: têm mais graça e dão sempre o toque de dor que se espera viver, ainda que inconscientemente. Não decidi ainda onde escrever. Pensei num caderno e numa caneta, mas é provável que as lágrimas me soltem do olhar e me façam cega na história. E eu não posso ficar cega, tenho que saber contornar todos os pormenores para não perder o equilíbrio. É certo que haverá momentos em que terei uma venda nos olhos para redescobrir sabores e essências e perceber pelo toque quais são as sensações sentidas. Com os olhos fechados sente-se de outra forma. Depois a venda desaparecerá e transcreverei por palavras tudo, ou quase tudo. Parecerá real a história e será aí que ela se tornará grande. O fim acabará com “era uma vez duas pombas brancas que naquele telhado perceberam que tinham caminhos distintos a percorrer. Já estava escrito. Voaram e eu perdi-as do olhar. Era manhã muito cedo e ia ser um dia longo com duas metades. Iria voltar para casa mais vazia e iria saber sempre sorrir às estrelas e a noite seria sempre sinónimo de inspiração.”

Na verdade, contei a história no meu pensamento. Sei-a de cor. Qualquer dia escrevo-a e leio-o em voz alta, prometo. A quem? A mim.