sábado, setembro 15, 2012

Explicação


Há no mundo da matemática e da “Normalidade” uma curva gaussiana que ousadamente nos mostra a banalidade dos seres e a “anormalidade” de outros, daqueles que fogem ao padrão e são, por isso, um desvio do padrão.

Um desvio tão incompreendido. Um desvio que faz ser sensível e chorar pelos sinais que aparecem, mesmo subtilmente. Um desvio que é tão difícil de viver pela complexidade dos pensamentos, das razões que damos às coisas. Um desvio que se transforma num desafio e numa aceitação dos 95% normais.

Hoje, procuro entender como é possível haver uma potenciação de seres que tanto divergem e que, curiosamente, parecem não se intersectar na linha.
Sabe-se que uma linha é um conjunto infinito de pontos, que saltitam de um lado para o outro. Sabe-se que há saltos momentâneos do intervalo dos 95% para o de 5% e do de 5% para os de 95%.

O que hoje procuro descobrir é se há saltos destes abruptos para sempre. Numa aceitação plena da diferença clara de gostos, de sentidos, de sonhos, de desejos.
Acredito que há e que é possível a linha manter-se equilibrada, sem muitos zig-zags. Mas para isso é preciso que a soma seja a unidade: 0,95 +0,05. Se não se conseguir a soma, não vale a pena prolongar a estadia no intervalo que não nos pertence.

Há que voltar à raiz e procurar a explicação do 5% ser tanto e ser capaz de criar cumplicidades especiais, embora possa doer num final.

No intervalo da “anormalidade” tudo é mais trágico, tudo é mais feliz, tudo é mais tudo. Porque aqui, o mais, é uma curva crescente do que somos. E neste intervalo, crescemos sempre para mais infinito e procuramos sempre quem o potencie mais e mais.

Acabo de te explicar.

segunda-feira, setembro 03, 2012

São as horas que nos separam


(Imagine-se o tempo em desagregação)


São as horas que nos separam. Numa desculpa ridícula de que o tempo é causador de insónias. Agora é hora de eu ir dormir como as crianças pequenas. Agora é hora de tu acordares como as pessoas grandes. Qual é a diferença destes tempos? Um lê a história para outro adormecer. Não há uma simbiose quase perfeita? Um desejo de se adormecer com vontade de sonhar com finais felizes? 

Aquela rua inspira-me, com o Sol a bater-me na cara. Sei que é tarde e sei que são as horas que nos separam. Como se houvesse um fuso horário nos nossos relógios. Como se aquela rua só existisse para mim e para os meus passos e para os meus pensamentos. Quantos textos já escrevi nela a voar? Em quantas pessoas já vi histórias que podia inventar?

Vou a correr sempre e vejo-te a ti bem devagar, sem a pressa de outros tempos. Aquela rua também tua todas as manhãs num trajecto que não sei. Apenas vejo a dificuldade e a persistência da tua história. Ainda é tempo de viver, dizes-me tu em silêncio, pelo teu olhar fixado nos chinelos enormes e nas mãos disformes. 

Que ninguém se ria de ti e do que és. Evaporas-te também numa rua só tua e imagino-te a voar. Já não te vejo mais e sei que são as horas que nos separam, numa distância que o tempo, que antítese, há-de resolver. 

Hoje são apenas umas horas, amanhã uns dias. E quando forem os anos, aquela rua já não existirá.

P.S. A música que deambula com os meus passos... http://www.youtube.com/watch?v=F8XzQRhvGjQ