segunda-feira, maio 02, 2016

Dicotomia

No alto. No sol primaveril. Deixei-me voar daquela escarpa. Ganhei asas no horizonte e mergulhei fundo. Deixei de respirar todo aquele tempo. Tinha o ar todo à minha volta.

Estive perto do céu. E não consegui entendê-Lo. Mesmo cantando, mesmo rezando. Céus cinzentos não são amor.

Voltei à terra. Aterrei no teu abraço e soletrei palavras de eterno. Foi a tua vez de voar. Fiquei a ver-te. Com formas distintas de levitar, soube que estavas em paz.

Estiveste perto do céu. E conseguiste entendê-Lo. Tentaste explicar-me. Em vão. Tudo o que não é sentido, não é inteligível. Para mim.

Da inquietude dos dias às manhãs de domingo a preguiçar.

Da dicotomia entre o céu e a terra.


Se hoje sou mar, amanhã sou areia.

P.S. I see the path now clearly to you: https://www.youtube.com/watch?v=yaNOqkDVxF8

terça-feira, março 08, 2016

Listas

Ando para escrever. Aqui. Tenho escrito para mim. Nas folhas soltas, como gosto. E em cartas.

Aqui é um espaço diferente. Os silêncios têm que ser outros e as pausas têm que parecer uma melodia bem tocada.

Lembro-me de tocar as notas inventadas e gostar das músicas que saiam da cabeça da artista. Sem agenda, eram assim aquelas aulas.

Hoje, gosto, das minhas listas de coisas a fazer. Para me orientar no tempo. Ao longo destes anos fui assim. Papelinhos pequeninos e vou riscando.

Há 3 anos que todos os anos, no princípio do ano, defino objetivos com a regra Pouco, Pequeno, Possível. São objetivos a curto-prazo. Os de longo-prazo trago no coração, mas tenho que os escrever em letra grande para eles não se esquecerem de me lembrar.

Percorri nestes anos um caminho bonito. Um caminho feito por mim, mas com especialidades que me agradaram muito e muito me fizeram crescer. Hoje, dias depois de fazer mais um ano de vida, o final de tarde quebrou este silêncio aqui. Quase como uma magia em mim.

Hoje, quero fazer uma lista diferente. Quero fazer uma lista de sentimentos e partilhá-la com os que partilham comigo dons de sentir. Dizer que gostamos tanto, que queremos tanto o bem, faz cada dia um dia mais feliz.  


Quero ser uma flor por abrir para o mundo. Quero ser uma flor cor-de-rosa para o meu mundo. E quem está cá sabe que cor é esta.

sexta-feira, dezembro 25, 2015

Feliz a sério

Lembro-me daquele tempo. Da esperança que a vela do Natal nos dava.

Acordávamos três na mesma cama. Eu e os meus irmãos. Levantávamo-nos com a energia de crianças felizes. Íamos para o soito de manhã. À tarde o nosso pai dava-nos tréguas.

Brincávamos.

Anoitecia.

Voltávamos para casa. A lareira acesa pequenina aquecia a cozinha, onde todos comíamos. Cheirava a bacalhau cozido, a batatas cozidas e a couve do Natal também cozida. O azeite por cima e parecia que estávamos a comer a melhor iguaria do mundo.
Saíamos para a missa. Com os sobretudos agasalhados, que passavam de uns para os outros. O Galo cantava à meia-noite e o incenso abstraia o cheiro do frio. Rezava pela noite que aí vinha e pelos dias futuros que queria não serem de frio.

De seguida íamos para a fogueira no largo da Igreja. Aquecíamos as mãos, a cara e o corpo. E ali voltávamos a sonhar, com os olhos vidrados no fogo e com os sorrisos e gargalhadas que nos saíam.

Voltávamos para casa para adormecer. Mas antes, escolhíamos a nossa melhor meia para colocar na lareira, com a esperança de ela poder ficar presenteada naquela noite. A minha mãe acendia uma vela. Adormecíamos felizes, felizes a sério.

Acordávamos três na cama. Mais uma vez, numa repetição consecutiva de dias até algum crescer e casar. Saltávamos de repente numa corrida até à lareira. As meias pareciam iguais, do mesmo tamanho, sem alteração. Mas, tocávamos nas meias e havia mágica. Por entre lãs entrelaçadas sobressaiam uns rebuçados. Ficávamos felizes, felizes a sério. Guardávamo-los para comê-los no final do almoço como sobremesa.

Abraçávamos as pernas da nossa mãe, num obrigado sincero. Enquanto nós lhe aquecíamos as pernas com o abraço, ela preparava-nos filhoses. A casa cheirava a filhoses acabadas de fritar. Salivávamos agora para poder comer aquele doce com o leite quente.


Lembro-me daquele tempo. Dos pormenores todos. A felicidade que tinha dentro de mim pelo tão pouco que precisávamos. Hoje vou voltar a acender a vela. Hoje vou voltar a comer um rebuçado. Hoje vou voltar a rezar. Hoje vou ser o menino de ontem. E vou ser tão feliz. Feliz a sério.

quarta-feira, outubro 14, 2015

Grito maior

Hoje apetece-me gritar-te. Ao ouvido. Em sussurro, mas de forma a estremecer-te e a ser ouvida em todas as tuas células, em todo o teu corpo.

Um grito de alma. E de sorriso. Um grito que aproxima as distâncias. Como se aí longe ouvisses a minha voz a chamar-te. Todas as noites. A querer tanto que adormecesses esta voz calada com o fim das histórias de embalar.

Enquanto o grito ecoa todo em mim também, absorvo o tempo e de novo é tempo de estar por perto. Um perto que cuida, que faz bem, que enternece os sentidos, que amolece a forma dura dos dias lá fora.  

Espero silenciosa pelos dias que faltam. Espero pelo caminho que se faz. Espero com a esperança de que os pés lado a lado são mais bonitos. Espero com a saudade do marulhar e de mãos entrelaçadas.

Acabei de soltar este grito. Vejo as ondas sonoras a baloiçar à minha frente. E lá ao fundo? Lá ao fundo… tu… tu… tu…

E eu?


Estamos longe para concretizar estas palavras. Que nos façamos sempre perto. Perto e porto de nós.

P.S. Dancing in the moonlight, Don't we have it all? https://www.youtube.com/watch?v=ilw-qmqZ5zY

quinta-feira, setembro 24, 2015

Bem-me-quer

No meio do arvoredo verde e alto andámos. Passo sem pressa. A respirar o que de puro há. A luz a trespassar o verde e o sonho ali à nossa frente a existir. Por entre História e Arte, adivinhámos os tempos, o passado.

Com Sol e vento e sorrisos estampados, vivemos o presente.

Aos meus olhos aparecem flores brancas. Daqueles bem-me-queres pequeninos. Peço-te para abrires a tua mão. Recolho-os e ficam suspensos na tua linha da vida. Mesmo com o vento à nossa volta, eles não voam. Querem-te dizer algo.

São cinco. Cinco bem-me-queres.

Consegues adivinhar a sequência futura? As folhas terão elas uma função que explique o seu crescimento contínuo?

O branco e a ausência de cor. O branco que me diz tanto. Que para mim é paz, é saudade, é tranquilidade, é amor. Sou feita desta cor na esperança de poder eternizar em mim o bem.


O bem-me-quer teu, o bem-te-quer meu.

P.S. Uma música bem-me-quer: https://www.youtube.com/watch?v=kfk6TKC1Fxk 

sábado, julho 25, 2015

Abraço de ontem

Inclinei-me para ti. Para os teus interesses. Queria saber mais. O que já viveste. Por onde andaste. O que já fizeste. Quem te magoou. O que magoaste também. Queria, no fundo, conhecer-te.

Por entre chás de inverno, conversas tranquilas, filmes premiados, comecei a traçar o que queria. Devagarinho. Muito devagarinho. Lá fui. Esperei e acreditei. Depois desacreditei. E voltei a acreditar, porque não consegui desligar, voltar de novo ao zero ou aos números negativos.

Da timidez fez-se luz. Luz que irradiou cá dentro e que faz bem. Não me fazes pensar tanto. Permites-me sonhar nas histórias que contas, sempre que te interrompo as falas. Permites-me viver mais na realidade, com o que realmente existe. Desafias-me no feminino, para me cuidar mais. A alma anda cuidada. Sempre tive mais cuidado com o intelecto do que com o “extelecto”. É preciso balancear mais.

Quero continuar a escrever-te. A ler-te. A Estudar-te. A sentir-te mais.


Não sei quais/como serão os desafios que aí vêm. Espero e acredito que sim. Que vamos estar à altura de os ganhar. Para no fim, os abraço dos ontens serem eternos.

P.S. You'll always be part of me...https://www.youtube.com/watch?v=PiF5OGcbiic

sábado, junho 20, 2015

Casas, viagens, eternidades

Procurei-te no acaso.
Numa fila de trânsito. Num passeio de rua. Num lugar de comboio. Num museu estrangeiro. Num ar livre alto.

Procurei-te a voar.
Sem ter os pés na terra. Sem me ter a mim terrena e filha do mundo.

Voltei das viagens com o vazio ainda a fazer-me cócegas. Mas, voltei sempre mais certa de quem sonho. Mais certa de quem quero. Mais certa de quem sou. Voltei com um passaporte aberto, como uma herança que tenho que partilhar.

Voltei para ser parte do mundo, da minha história, da tua história. Ainda que com asas, vou com os pés a trilhar caminho sério. E gosto desta mistura de mundos. Do meu fantasiado, romântico, especial e do teu mais real.

Precisava de aprender a sentir o chão. O chão sempre. O chão com dores e eu voava, voava até não ter mais chão.

É este o meu exercício de agora. Deixar de idealizar acasos e simplesmente sentir o que escolhi, o que fiz por merecer, o que não desisti. Sentir e deixar que sintam que há tanto para viver e para partilhar.


Os dias começam a contar. E eu mesmo descalça no chão, acredito na eternidade dos momentos, das partilhas, da vida que está para vir. Sinto que tu também acreditas.

P.S. Home is wherever I'm with you... https://www.youtube.com/watch?v=oUknlSWNbEI