sexta-feira, outubro 07, 2011

Poetas



Há poetas que criam buracos no chão. Daqueles que são para cair e ver o que há dentro da Terra num voo precipitado. Nessa viagem ao âmago da Terra os relógios dissipam-se e desaprende-se a contar segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos de silêncio. Na viagem há música e há pistas para se encontrar uma luz que guie até à explosão de sentidos. Os compassos de múltiplos de oito podem ser uma delas e as memórias também. Elas aparecem como fotografias desconhecidas: em que apenas se vê e nada se sente. Cada uma que vai aparecendo tem algum detalhe, algum sinal. Ainda que indistinto é possível saber ler com as mãos cada imagem. No adejo os braços e as pernas estão leves. São uma pena e uma pedra sem a força da gravidade. Também não há frio, nem calor. Tudo parece ser uma ausência: como o branco ser ausência de cor. Parece estranho haver na mente e no chão estas lacunas. Mas, a verdade é que elas existem sempre que um poeta assim o decide.



Há poetas que criam um fim e uma nuvem fofa para descansar. Há poetas que se esquecem que criaram buracos no chão e que há pessoas perdidas no meio de algo que ninguém vê. Há poetas esquecidos, de facto. E há outros que todos os dias se lembram de esquecer.





P.S. A Chuva que faz falta também pode ser um dos detalhes: