segunda-feira, janeiro 25, 2010

Dupla

(sem imagem, porque não há memória)

Esquecer. Era este o pedido. Breve e simples. Tão simples como pegar numa folha de papel e numa grafite e tentar riscar os momentos e só me sair um rosto, duas mãos, três marés. E depois das marés vem o desejo de me lançar ao mar e de com ele redescobrir as histórias perdidas lá no fundo.

O mar é o homem do tempo. Do tempo de sempre.

Vou-lhe escrever uma carta e pedir que me relate histórias como a minha. Vou-me sentar numa praia e vou ouvi-lo até eu me esquecer da minha história, até eu só saber de histórias de outrem. Depois, vou embora e vou traçar um caminho na areia para ser levado por uma onda, como se tudo pudesse ser apagado e alisado de novo.

A areia é a Mulher do tempo. Do tempo de sempre.

Vou-lhe escrever um postal a agradecer por ter concretizado o pedido breve e simples. Ela vai ficar contente por eu ter lembrado de ter esquecido. Depois, irá esquecer o meu postal e ele será levado até às profundezas do mar. Por lá irá ficar até alguém voltar a querer ouvir histórias como a minha.

E tudo será um ciclo. Um ciclo que começara com Esquecer e que acabará com o “Lembrar de alguém”. Por mais que a areia seja do tempo de sempre, o mar também o é, e o que um esconde, o outro guarda.