quinta-feira, setembro 09, 2010

Mestres


Um simples toque de mãos e percebe-se a dureza de uma infância, de uma vida. Com vergonha pela diferença de texturas havia crianças que não me queriam dar a mão. Notei pelo toque que a palma das meninas e dos meninos tinha pequenos calos junto ao início de cada dedo.

E eu a pensar: E as minhas mãos de princesinha quando era criança, quando brincava com bonecas e pensava que o mundo era as histórias perfeitas que inventava: Não havia famílias com sete filhos e com fome, não havia ninguém doente que não tivesse cura, os pais educavam e bem-tratavam os seus bens mais que preciosos, os brinquedos eram como os meus e havia muitos para variarem as brincadeiras, os sonhos Do Que Queres Ser Quando Fores Grande eram sempre possíveis e fáceis.

E eu a acordar: a utopia da igualdade e a utopia de eu ser capaz de mudar o mundo inteiro.

E eu a aprender: se eu deixar pequenas marcas que sejam e que mudem algo em alguém para melhor, esse alguém irá mudar algo em alguém para melhor e num longo-prazo todos seremos pessoas melhores e o nosso mundo, consequentemente, também será melhor.

E eu a questionar: e se alguém quebra este ciclo do bem? Alguém responde: quando algo quebra, há sempre alguém que segura e multiplica o bem. E eu acredito!

Com todos os motivos para não sorrir e não ser feliz, estas crianças com calos nos dedos ensinaram-me a retribuir cada sorriso com um sorriso mais rasgado e um abraço mais apertado. Elas não vivem de futilidades; elas são Mestres que nos dão grandes lições de vida. O essencial está em cada um de nós e só se vê com o coração.

Sentir o tacto é sentir o importante.


P.S. *Os meninos da foto eram estes Mestres. Como brinquedos tinham estas motos de esferovite.