sexta-feira, março 29, 2013

À janela


(foto de minha autoria)

Falem-me das coordenadas que tatuaram.

As minhas são à janela. À janela do meu quarto, aquela onde me sento no parapeito a olhar para duas borboletas brancas, para uma serra verde, para três céus, um de chuva, um de sol e outro cor-de-rosa. Por aqueles vidros vejo tudo, sonho tudo. As histórias são todas perfeitas. Gostar é suficiente. O mundo é inocente.

Volta e meia, abro a janela. Sinto o vento levante que se chama à razão de ser. É o de levante, como a música da orquestra que oiço. Que me diz que não vale a pena perdurar com a janela aberta. O melhor é olhar cada vez mais distante através dela.

Há dias em que faço esse exercício: olho o mais longe que consigo. Há vezes em que vejo cavalos a descer pela encosta com alguém a me acenar. Eu sorrio e fico assim, à espera do desaparecimento da imagem, para voltar a sonhar. Na verdade, o cavalo nunca chega, porque volta para trás. Chega-me um pequeno passarinho à minha mão. Traz-me um bilhete. São as palavras que escrevo no meu coração. De onde ele as descobriu?

Há dias em que faço outro exercício: olho o mais perto que consigo. Vejo o reflexo dos meus olhos naquele vidro. Ficam lá gravados e à noite quando paro de olhar, e vou dormir, há um mocho copista que lê tudo o que os meus olhos dizem. Escreve os meus textos, como se eu lhos tivesse a ditar, naqueles bilhetes. Depois distribui àquele pequeno voador para me deixar inspirada com o meu próprio ser.

Então, é assim. É através da janela que para mim acontece, não sou eu quem planeio. Mas, sou eu quem decide a cor do céu.

E vejo tanta vida dentro de mim.