segunda-feira, novembro 24, 2008

Era uma vez uma sombra...


Era uma vez uma sombra...

Adormeci num sono compassado cuja melodia eram a ternura de abraços. Volta e meia os seus passos seguiam-me em sapatinhos de algodão e eu ficava sossegada, calada. Estava sempre atrás de mim e eu não vi, não fui nunca capaz de ver. Uma cegueira enorme, um desafio oculto. Era uma sombra, sim, mas diferente. Era reflectida para trás, impossível de eu correr atrás dela. Apenas ela, só ela, poderia correr atrás de mim. A verdade é que nunca se cansou, porque eu sempre andei devagar, sem pressas, sem rumo, sem nada.

Houve um dia que a sombra desapareceu. Não sei se dei conta, não sei se queria dar conta. Ela deixou de me abraçar e de me levantar cada vez que eu tropeçava naqueles fios de tempo. Cansou-se, é certo. Talvez da minha insegurança ou mesmo da minha falta de iniciativa para correr até ao céu e lançar-me naquele baloiço até ao mar. Também me cansei por não a ver, por apenas ouvir caminhadas quietas e sorrisos plácidos.
Sorte, indiferente. Expectativa, nenhuma.

Era uma vez uma sombra...

Que
...

sábado, novembro 01, 2008

Devaneios floridos


O jardim está a adormecer e ouvem-se os suspiros das flores. Eu escrevo com a mão quebradiça ao som do adormecimento da terra. Está escuro lá fora, o silêncio já se ouve. A manta aquece o corpo e alimenta a criatividade.


Olho para o horizonte e imagino uma flor sem sono que teima em ficar acordada para sempre. E eu rio-me com estes meus devaneios floridos. O sempre, o sempre - penso. O sempre é relativo como a minha sede por esta terra. O sempre é impossível mas ao mesmo tempo fácil de se sentir. O sempre existe quando eu digo que existe uma flor que não dorme. O sempre existe quando eu oiço uma estrela a guiar uma flor. O sempre existe quando eu vejo duas flores unidas a um luar sem sono.


Estas flores são humanas: sabem e acreditam . Sabem como funciona a dinâmica e não se entristecem com o Outono. Sabem que eu as imagino assim, e por isso gostam de me fitar quando tudo dorme. Elas acreditam em mim, nos céus e nas terras e acreditam no sempre. Acreditam!
Elas acreditam que um dia tudo estará acordado quando uma delas adormecer eternamente, para sempre...