domingo, janeiro 26, 2014

A diferente chuva

O meu cabelo ficará molhado. Não do banho, mas da chuva de ideias que lá fora espreita para cair.

Hoje não é só mais um dia. Hoje há poesia lá fora. As luzes das aldeias abrem-se por entre os cortinados transparentes.

Ninguém adivinha que hoje a chuva será diferente. Enrolo-me nas mantas deste inverno frio e espero pelo sinal. Deambulo nos meus sonhos e na exigência que tenho para mim. Sou alheia ao enredo e faço a minha própria história.

A estrela bateu-me à janela. Saio com pés de lã e deito-me na relva verde à espera que esta chuva caia. O meu cabelo brilha, os meus olhos transformam-se em luz e o meu coração fica enorme.

Vejo o ano passado correr-me nas veias, com todas as coisas boas que me aconteceram, com todo o crescimento que tive. Sou mais, tive mais, aprendi mais, dei mais. Foi um ano de realizações. Os concertos, as viagens, os teatros, as fotografias, os olhares, os toques, as partilhas, os sabores, as essências, os trabalhos. Por fim, a pequena S. que terá um lugar diferente e novo neste caminho.

Sinto que alguém se deita ao meu lado, ainda que invisivelmente. Diz-me para continuar com a mochila às costas e com os sonhos que crescem. Diz-me que terei companhia e que o caminho nunca será egoísta. Diz-me para escrever e não ter medo que os outros leiam a minha alma. Desaparece de mansinho e eu volto à janela. A estrela diz-me adeus e até breve.


Acredito que seja alguém sábio e eu gosto de sabedoria.