sábado, dezembro 31, 2011

Raízes



(fotografia da minha autoria)

Se fosse possível resumir um ano a uma palavra, resumiria a raízes.

Raízes que nasceram. Novas, com vida e com vontade de crescer.

Raízes que cresceram. Já nascidas e que cresceram saudavelmente na terra que suporta os meus pés.

Raízes que morreram. Breves ou Médias ou Longas ficaram sem ar ou sem espaço na enorme densidade do que acontece.

Raízes que adormeceram.

Todas são raízes. Todas permanecem quer com ou sem vida. Alimentam-me as que nascem e crescem. Mas, todas me suportam e me fazem prosperar. Todas as minhas raízes estão voltadas para o céu. Como a árvore que vi e que toquei. Como os ramos à espera de florir.


P.S. *A vida é marvilhosa com todas estas raízes... http://www.youtube.com/watch?v=7l74d1fmZbw

*Um pedacinho de 2012... Seria importante eles saberem falar? Falar não é mais do que uma expressão oral do que pensamos. Mas há outras formas de falar. Eles sabiam escrever numa linguagem muito própria, que apenas os cinco conheciam. Também sabiam sorrir e rir, e estas duas manifestações também são falar. E será que seria importante eles saberem ouvir? Ouvir não e mais do que percepcionar o que nos rodeia. Mas há outras formas de ouvir. E eles sabiam ouvir com o coração.

domingo, dezembro 25, 2011

Natal é agora

Hoje abraça-me este poema do Ary dos Santos...

"Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher"

Hoje também me abraça esta voz...
http://www.youtube.com/watch?v=C1g5qHxSoF4

Natal é agora :)


terça-feira, dezembro 13, 2011

Ser por si só


Adormecer num silêncio tranquilo e deixar-me estar. Acordar com pássaros a bailar na minha janela e saber, saber por si só, que o que está lá fora é apenas o meu presente. O único presente que sou audaz de conjugar.

Um agora com reminiscências de pretéritos perfeitos e imperfeitos. Um presente que me mostra que não importa uma conjugação plural se apenas é dita no singular. Um hoje que transforma pormenores na sua percepção e na desconstrução do que eles são. Um já de acasos com duas probabilidades simples do sucesso ou do insucesso. Um imediatamente de guardar tudo outra vez em mim e perder a chave. Um depressa com a aceitação da mudança para um outro alguém como que uma desculpa à solidão.

Um tempo que tende para infinito e que se confunde com o futuro. Um futuro que é este agora, este presente, este hoje, este já, este imediatamente, este depressa. Um futuro com mais conjugações de felicidades. É o que desejo à conjugação de ser.

Por isso, ensina-me, pequena ave da manhã, a ser.


P.S. Hoje fica esta: http://www.youtube.com/watch?v=K1sZpmBnJuw :)

domingo, novembro 13, 2011

Corre


Corre. Corre depressa. Não olhes nunca para trás. Corre. Corre o mais que puderes. Não tenhas medo se de noite não houver lua. Não olhes para as pedras, elas não te farão cair. Não olhes para o céu, o Sol poder-te-á cegar. Olha sempre para a linha do horizonte. E não desistas. Continua a correr. Não te vais cansar. Nunca nos cansamos quando corremos pela nossa essência. O teu caminho não era aqui. A tua casa não era esta. Era demasiado grande e complexa para ser vivida. Corre. Vai mais longe. Procura uma casa pequenina numa árvore para passares as noites. Acordarias todos os dias com o “passarar”. Ou então procura uma casa pequenina numa árvore à beira-mar. Seria o ideal. Adormecerias todas as noites com o “marulhar”. De manhã, levanta-te. Lava a cara com água salgada e espreguiça-te. Prepara-te para correr. Corre. Não leves mapa. Deixa-te guiar pelo teu instinto. Se tiveres que parar durante o dia não confies em que não conheces. Não te iludas com um doce. Quem é humilde apenas teria para te oferecer um copo de água e um pedaço de pão. Se conheceres alguém que apenas te ofereça isto dá-lhe de ti e pára de correr. Ajuda-lhe a semear o que for preciso. E fica à espera até veres os frutos que deu. Colhe tudo de bom agrado. Despede-te com um sorriso enorme e volta a correr. Corre agora mais devagar. Já não haverá urgência. Já descobriste parte da simplicidade da vida e da solidão. Agora, podes ir a andar e desfrutar a música dos teus passos. Estarás perto de encontrar a comunhão dentro de ti. Se fores capaz estarás bem contigo e vais gostar de viver de ti para ti.

A segunda parte da viagem não é fácil: saber encontrar-se dita a cura do que vai na alma. Mas o mais difícil é decidir partir e procurar a identidade do eu.

P.S. Hoje a música que embala é esta: http://www.youtube.com/watch?v=7LlKoQAvXUc :)

terça-feira, novembro 01, 2011

Vida

É paradoxal esta existência. Parecem estalinhos nos ouvidos a pedir para acordar quem morre dentro de cada um de nós. Como se fosse apenas um adormecimento demorado. Morre-se assim dentro das pessoas sem sabermos se algum tempo vivemos dentro delas. E Morrem dentro de nós da mesma forma. Não se sabe porquês, quandos, comos. Não há culpas ou desculpas. Simplesmente acontece. Um acontecer da razão, da dor da ciência. Ela diz-nos, com frieza das formulações das hipóteses, que nem todos têm o direito de viver dentro de alguém… Já bastam os imaginários, não? E estes, a maioria das vezes, acabam por desaparecer também. A morte das pessoas nas vidas caminhadas acaba por ser sinónimo de memórias perdidas e encontradas. Há dias que, por qualquer coisa, nos levam a dar vida aos que morreram. Uma panóplia de sentidos invade a alma e dá alento a dias cinzentos. E eu já não tenho medo.

(Minto. Tenho medo de morrer em alguém que em mim ainda tenha vida.)

P.S. *Também nos devemos lembrar de quem vive e querer que vivam felizes para serem todos lembrados no dia de hoje com muitos sorrisos.

*A música que fica... http://www.youtube.com/watch?v=wZd8bVY8Kk8... Abrir a janela e voar :)

sexta-feira, outubro 07, 2011

Poetas



Há poetas que criam buracos no chão. Daqueles que são para cair e ver o que há dentro da Terra num voo precipitado. Nessa viagem ao âmago da Terra os relógios dissipam-se e desaprende-se a contar segundos, minutos, horas, dias, semanas, meses, anos de silêncio. Na viagem há música e há pistas para se encontrar uma luz que guie até à explosão de sentidos. Os compassos de múltiplos de oito podem ser uma delas e as memórias também. Elas aparecem como fotografias desconhecidas: em que apenas se vê e nada se sente. Cada uma que vai aparecendo tem algum detalhe, algum sinal. Ainda que indistinto é possível saber ler com as mãos cada imagem. No adejo os braços e as pernas estão leves. São uma pena e uma pedra sem a força da gravidade. Também não há frio, nem calor. Tudo parece ser uma ausência: como o branco ser ausência de cor. Parece estranho haver na mente e no chão estas lacunas. Mas, a verdade é que elas existem sempre que um poeta assim o decide.



Há poetas que criam um fim e uma nuvem fofa para descansar. Há poetas que se esquecem que criaram buracos no chão e que há pessoas perdidas no meio de algo que ninguém vê. Há poetas esquecidos, de facto. E há outros que todos os dias se lembram de esquecer.





P.S. A Chuva que faz falta também pode ser um dos detalhes:

sábado, setembro 24, 2011

o que se pensa


Há sempre noites em que gostava de escrever mais sobre o que vai em mim. Sobretudo sobre o que penso. Acabo por não fazê-lo. Às vezes magoa pensar de mais. E cada vez que escrevo penso muito. Na efemeridade desta existência e das partes que morrem em nós bem antes de partirmos para uma eternidade que teima em ser um conceito abstracto. No Amor que é preciso dar. No Amor que é preciso receber. Nos pólos magnéticos que cada um de nós é. A atrair os diferentes e a repelir quando se é igual. Na estranheza de quem desiste e chora. Na similaridade de quem arrisca e sorri. Penso nisto tudo e volto a pensar. No porquê de ser assim. Nos sinais que teimo em adivinhar e que já não existem. No que me leva até a Sol e me faz cegar. No que me leva até ao Céu e me faz sonhar. Chego sempre à mesma conclusão. Não sei nunca definir nada e por mais que treine vou ser sempre assim. Ambivalente em tudo: perto, longe e princípio, fim. E se for para sempre este o ciclo? Por mais que eu não queira. Por mais que eu sempre tenha sonhado com laços como os da história que só em grande a soube ler.

E se eu simplesmente estava a tentar escrever sobre perdas que fazem parte de mundos a cores reais, um dia quando os pólos magnéticos se inventarem sem partir, eu sei que aí já não saberei mais pensar. Mas, saberei sempre sorrir para a pequenina que é tão grande e que me faz acreditar que ainda consigo ser uma criança.

P.S. Há sempre boas descobertas como esta: http://www.youtube.com/watch?v=T0yaQ20dpWI&feature=related

terça-feira, setembro 06, 2011

Um novo grafismo

Queria pontos de afirmação no que pensava. E, por isso, fui à procura deles. Não queria vírgulas, pontos e vírgulas, pontos, pontos de interrogação, pontos de exclamação, reticências. Não queria nenhum destes sinais. Queria um diferente. Um que acumulasse as funções de todos. Um que não fosse preciso mudar consoante o que se diz, escreve ou sente. Um que se interpretasse individualmente e que exprimisse uma pausa prolongada ou pequena ou intermédia, uma pergunta, uma ironia, um sorriso, uma surpresa e algo incompleto. Tudo num único desenho. Comecei a desenhar e a procurar definir este novo sinal gráfico.

Que me perdoe a gramática perdida no tempo se anseio pelo vanguardismo desta nova arte.

Olhei para a Lua, invisível no azul do céu da noite, e ela contou-me como era o grafismo que queria esboçar. Sorri. Era óbvio. Uma imagem que não gosto de usar, mas que traduz tudo e mais alguma coisa. Umas vezes cheio, outras vazio. Umas vezes feliz, outras triste. Umas vezes tranquilo, outras descompensado. Consegues adivinhar?

Hoje, esta noite e em muitas noites passadas, eu queria ter escrito sobre as saudades que tenho do sabor de um concerto de inverno que tanto me fez sonhar e aquecer. Não consegui escrever sobre ele. Ou melhor, escrevi. Naquele concerto procurei pelo sinal. E só hoje, esta noite, encontrei a sua forma.


P.S. Uma das músicas que descobri e senti: http://www.youtube.com/watch?v=d7dsOw_45JM

quinta-feira, agosto 25, 2011

vaivéns

Quando uma água salgada é sinónimo de fim, o silêncio visita as palavras. Ficam outra vez diferentes. É uma visita inesperada e nunca se sabe, ao certo, quando ele parte outra vez em viagem. Mas, um dia parte mesmo e leva com ele saudades. Mas, num outro dia, volta e traz com ele nostalgias. Diz-se que, nestes vaivéns, o silêncio visita livros, cadernos com escritos à mão e músicas. Também visita Invernos e ventos gelados na face e também visita Verões e sóis quentes na face. Traz sempre consigo pequenas vozes doces que fazem companhia como um qualquer quadradinho de chocolate derretido nos meus sonhos.

Um sonho e Um nada.

Um nada. Um nada que se transforma, sem sabermos como, em tudo. Um tudo que também se pode transformar em nada. São as disparidades desta vida que nos fazem ser a soma de dois igual a 1 ou por qualquer razão, não trivial, 1 + 1 é igual a 2. Não sei se se procura ou se encontra. Não sei o que dói mais: saber tudo ou não saber nada. Ainda assim, acredito que se cresce e que se sorri por outros pedaços permanecerem em nós, para um sempre.

P.S. *Decidi acrescentar umas frases ao que te escrevi há uns tempos, little Angel, acerca de nadas e de tudos.

*A música que inspira hoje…

http://www.youtube.com/watch?v=8-84_9ube78&feature=related

segunda-feira, agosto 01, 2011

ali


Ali. Sonhei um pouco com a vida e com o mundo. Naquela noite a ouvir uma voz feminina que entoava fados (con)sentidos. Não sei bem por que é que decidimos ficar ali, naquele preciso lugar, de pé a olhar para o palco lá longe. Gosto de olhar perto, bem perto e perceber o quê e quem me rodeia. Talvez por segurança, também por curiosidade de percepcionar o que vejo. Ali. À minha frente dormia um menino, embalado por toda aquela música, e embrulhado num cobertor quentinho que apetecia tanto sentir aquele calor. Ao lado estava a mãe, sentada, pensativa, cansada, cigana. Olhei para o tecto daquela máquina de algodão doce e vi luzes de cores. Uma azul, uma amarela e uma rosa. Decidi pensar o que eram para mim cada luz. O azul: o céu, o infinito, a descoberta, o sem limites. O amarelo: a luz que faz sorrisos e que diz que ninguém está só. O rosa: o sonho, o meu mundo quieto e perfeito e doce. Depois, decidi pensar quem estava em cada cor. Percebi que é difícil separar, marcar a delineação. São as três cores que trago dentro de mim e que vejo em cada pessoa que acolho aqui, umas cores mais intensas do que outras. Voltei a olhar para o menino e continuava a dormir, tranquilo e com um sorriso subtil nos lábios. Parecia que me lia mesmo de olhos fechados. Imaginei-lhe um futuro de corridas à procura de cada uma das cores. Muito ao meu jeito, ao que sinto, ao que está em mim, ao que me leva e ao que me toca.

Estava ali, de costas para mim, alguém que adocicava bocas com a perícia de moldar um algodão doce.

Um algodão doce, cor-de-rosa, que me fazia sonhar. Ali, connosco, em saudade, à procura de pequenas luzes, como aquelas que me levaram a divagar.

domingo, julho 24, 2011

A árvore da vida


Esboços de um tal filme que estremece cá dentro e parte bocadinhos de cada ser pessoa… “A árvore da vida” ou "um ensaio da existência humana (des)protegida".

Muitas imagens. Muitos pensamentos. Muitos anos de história. Muitas marcas. Tudo veloz e estonteante. Do cosmos à vida terrena e à eterna.

Ela dançava com pés de lã e falava para dentro, para si. O ar era dócil e frágil. Gostava de voar e de sonhar e de amar. Sentia-se grata e com graça. A natureza era a sua mãe e o céu o seu pai. Também havia outro pai. Outrora músico e com sonhos. Agora mau. O bem e o mal corriam atrás um do outro. Onde um existia, o outro espreitava também para existir. Cabia ser feita uma escolha pessoal e, quem sabe, uma escolha universal.

A imagem de piedade dos dois dinaussauros, em que eu poderia ser um e tu outro e em que poderíamos trocar de lugar e ficaria tudo igual. A morte à porta e um adiar dela. Um meteorito a extingui-los e a música de uma nova vida a nascer numa terra perdida neste universo. Chuvas que corroem montanhas, vulcões que incendeiam a existência.

O perdão. O choro agudo de uma perda. Um irmão que magoa o outro, sem saber bem porquê. O choro agudo de um irmão que confia. O perdão outra vez. E a mãe queria tanto que eles fizessem o bem, que se amassem, que se deixassem levar pela água da vida e pela luz que teima brilhar todos os dias. A perda da inocência e a realidade a doer cada vez mais. Crescer, é preciso crescer tal como uma árvore e uma cobra.

Pulos de felicidade e liberdade. Um elevador que sobe para nos levar ao reencontro dos que amamos. Um lugar tranquilo que acolhe. Que tem vento que faz esvoaçar os cabelos e as mãos. Abraços demorados e lágrimas sentidas. Sorrisos, muitos. O perdão outra vez. A entrega de uma vida a um mar que leva consigo a areia de que somos feitos. O tanto que poderia ter dito e o tanto que não sabia até este fim. Um lugar onde o fim é o início. O início do amor. O início da paz. O início da reconstrução. O início do mal pelo bem. Ali… à nossa espera… um dia.


Com luz. Sem luz. As dúvidas permanecerão para sempre. Ainda assim, faço o meu caminho pelo meu bem, pelo teu bem, pelo bem de todos.

domingo, julho 17, 2011

um


Quis ser imprevisível e quis ser eu a fazer surpresa no primeiro momento. Acabei por sorrir muito de forma tímida com as palavras que lia e que contavam o tempo até aos meus passos se ouvirem. Depois, veio um envelope envolto em segredos que de alguma forma previam o futuro, como se as palavras pudessem ser adivinhas. Eram pequenos pedaços de mim e que te oferecia ali para guardares bem em ti. O vento começou a sentir-se em cada poro de pele e era preciso um pouco de calor. A lua nascia e sorria para nós como uma pintura no céu. Um céu azul com uma esfera brilhante onde se via o lado visível da lua com mares de imaginação. Ficou bem como foto. Estava frio outra vez e eu adivinhei o teu pensamento não por magia. Primeiro eram dois sofás, depois um. E é o número um que marca o início de criatividade, de conversas, de óculos pousados numa mesa, de mãos entrelaçadas, de toques de contiguidade e de beijos com pequenos sorrisos. Guardámos outra foto. A noite acabou com saudades e o dia trouxe pedido de histórias. Conta-me histórias, foi o pedido. Um dia iremos encontrar o tesouro que existe no fim de um arco-irís e iremos inventar uma nova constelação, com aquela forma e com aquele sorriso. E a finitude deste universo tenderia, aí e para sempre, para mais infinito.

Ss + oo.

domingo, julho 10, 2011

A história II


Um esboço do plano de outra parte da história…

Voltei a pensar na história. Desta vez detive-me nos pormenores do interior. Os elementos iniciais serão a água, a terra, o ar, as árvores, as flores, os veados, as borboletas, as pedras. Cada um com o seu significado. A água pelo frio e pelo corte da distância. A terra pelo chão que pisamos. O ar pelo bem-estar das caminhadas. As árvores por esconderem segredos. As flores por serem o perfume da história. Os veados pelo pretexto de os ver e sentir mais. As borboletas por voarem desejos. As pedras nos sapatos e no caminho.

Foram manhãs disto. Enquanto caminhava ouvia pássaros a cantar. Percebi que cantavam “River flows in you”. Era melodiosa e deliciosa esta música. Fazia-me sonhar o infinito e fazia-me agarrar o presente. Era um sorriso sem medo. Era uma protecção sem igual. As palavras eram ocultas e os pensamentos claros. As vozes sussurravam pequenos silêncios. Havia risos, muitos risos. Advinha-se algum tipo de vínculo. Percebi, mais tarde, que seria um livro com quatro histórias em quatros tempos diferentes e com quatro formas de sonhar e de mar. A par disso, o vento batia-me com leveza na cara e eu fechava os olhos e pensava que tudo aquilo ia ser para sempre.

quarta-feira, julho 06, 2011

A história


Prometi que hoje ia escrever. Ia começar a contar uma história, que desde há dois anos a quero escrever. Uma história pequenina e grande, com sentidos e significado, com palavras e silêncios, com ternuras e distâncias. Já sei como será o início e o fim. O início será o normal e o fim o anormal. As antíteses numa história são sempre importantes: têm mais graça e dão sempre o toque de dor que se espera viver, ainda que inconscientemente. Não decidi ainda onde escrever. Pensei num caderno e numa caneta, mas é provável que as lágrimas me soltem do olhar e me façam cega na história. E eu não posso ficar cega, tenho que saber contornar todos os pormenores para não perder o equilíbrio. É certo que haverá momentos em que terei uma venda nos olhos para redescobrir sabores e essências e perceber pelo toque quais são as sensações sentidas. Com os olhos fechados sente-se de outra forma. Depois a venda desaparecerá e transcreverei por palavras tudo, ou quase tudo. Parecerá real a história e será aí que ela se tornará grande. O fim acabará com “era uma vez duas pombas brancas que naquele telhado perceberam que tinham caminhos distintos a percorrer. Já estava escrito. Voaram e eu perdi-as do olhar. Era manhã muito cedo e ia ser um dia longo com duas metades. Iria voltar para casa mais vazia e iria saber sempre sorrir às estrelas e a noite seria sempre sinónimo de inspiração.”

Na verdade, contei a história no meu pensamento. Sei-a de cor. Qualquer dia escrevo-a e leio-o em voz alta, prometo. A quem? A mim.

domingo, junho 05, 2011

Acasos

Não há coincidências. Há acasos. Aprazíveis, amigos, com algum “t” de “tinha que ser”. Foi assim num ontem, foi assim num hoje.

Num ontem, escrevemos umas palavras a alguém que nos é muito querido, partilhámos sonhos e deixamo-nos desfrutar do vento que corria do horizonte do Mondego. Nenhuma de nós sabia que íamos estar ali, mas aconteceu. E a tarde terminou com a “Cor da Esperança” e com o alento de quem nem o céu é o limite. Ficou gravado nesse dia que há histórias que marcam os dias e há dias que nos marcam.

Num hoje foi diferente. Alguém me agradeceu por eu ter impresso sentimentos em palavras, que explicavam tão bem o seu estado de ser naquele momento. Era um texto antigo, já com pó. Lembrava-me das palavras, do rasto seco da garganta, das anestesias do interior e de todas as imagens que me levaram a escrevê-lo. Mas, não me lembrava quem me levou ao fim dessas palavras. Há de facto um sorriso de criança, uma música e um abraço, mas que apenas fazem sentido aglomerado agora.

Acredito que escrevi esse texto para eu o ler agora, para também eu me rever em cada palavra, em cada ponto final, em cada entrelinha. Hoje, ele está à medida do que eu sinto… sem tirar nem pôr. Está à medida do vazio. Daquele vazio.

Obrigada, amigas, por estes acasos.


P.S.http://www.youtube.com/watch?v=2Hay0xlAEwI&feature=related :)

quarta-feira, maio 04, 2011

Intervalo


Os livros continuam numa pilha enorme à espera de tranquilidade para os ler. As palavras continuam na cabeça a uma velocidade atroz, que tonteia todos os pensamentos quotidianos. Ultimamente, tem sido assim. Encontro-me estonteada, com mil palavras para dizer, mas com falta de apetite para dizê-las. É tempo de silêncio. E de ecos. Gosto de escrever nos intervalos dos silêncios e dos ecos: viro-me para lá e grito, oiço-me, não oiço nada, escrevo até ouvir o silêncio a perturbar-me, volto a gritar, volto a ouvir o meu eco, escrevo mais palavras até o silêncio voltar a mim. Gosto disto, faz-me variar os pensamentos, como se fossem razões esquemáticas de uma vida com tanto significado. As palavras são a minha voz, mesmo que escritas. Por vezes roucas, por vezes tímidas, por vezes luminosas, por vezes caprichosas, por vezes tristes, por vezes amorosas, por vezes tu, mas sempre eu. Sempre, sempre, eu. Por mais que finja e que me debata com o que me envolve, transpareço sempre o intervalo que existe entre um eco e um silêncio. Eu percebo-o bem. Estou habituada a estudar intervalos mais infinitos que este. Por isso, não é difícil. Só o é se a sensibilidade estiver adormecida. Quem não sabe de mim, não o sabe. E quem sabe de mim, talvez o saiba. Assim, eu acredito.

P.S. *Entre ecos e silêncios saiu este texto.

sexta-feira, abril 08, 2011

Inútil

Devias ter uns cinquenta anos e estavas ali: inútil, sujo, perdido. Andavas de um lado para o outro; não percebi à procura de quê. Pensei num cigarro, numa sandes ou num simples diálogo. Perguntava-me se saberias falar. Perguntava-me se saberias escrever. Perguntava-me se saberias pensar. Perguntas, obviamente, estúpidas.

Pousaste as tuas coisas, presas por cordéis, no chão daquela praça. Tinhas pouca coisa: um garrafão vazio e ma espécie de mala de documentos, onde presumo que trazias alguma roupa. Sentaste-te e trocaste de sapatilhas. Trazias umas all-star sem meias, e estava calor, muito calor. Bebias água de uma garrafa de litro e meio e a tua camisa estava semi-aberta e eras magro. Voltaste a andar de um lado para o outro. Talvez para seres visto, para saberem que existias. Custava-me olhar para ti e ao mesmo tempo não conseguia desviar o olhar. O teu era triste, magoado, sem rumo.

Gostava de saber da tua história, mas esta sociedade não permite, estes “pré-conceitos” não permitem. Olhava à minha volta e ninguém se apercebia de ti, ignoravam-te como se fosses uma pedra: amorfo a tudo. E estava ali tanta gente a conversar como se o mundo fosse apenas aquele pedaço de tempo ao redor de umbigos bem limpinhos.

Comecei a pensar no que aconteceria se te sentasses numa daquelas mesas da esplanada… O empregado, certamente, que te iria espantar, porque tu irias espantar clientes… O empregado, certamente, que te iria querer matar, mas lembrar-se-ia que isso era crime. Acabarias por te ir embora e cada vez mais triste por ninguém te querer bem.

Não contei quantas voltas deste de um lado para outro. Mas, cada vez que te chegavas para o lado direito, eu tinha medo. Medo do desconhecido.

Ninguém te ligou nenhuma. E acabaste por ir embora.

E se tinhas fome? E se tinhas saudades? E se tinhas solidão? Ninguém quis saber… e eu também não.

Desculpa-me também a mim. Desculpa-me a cobardia.

P.S. *O primeiro espaço sugerido para tomar o café foi aquele (o espaço PR). Mas, antes de nos sentarmos naquela esplanada, percorremos dois cafés onde não havia lugar para nós. Disse na brincadeira que estava escrito que teríamos que ir para a esplanada do espaço PR, porque iria acontecer alguma coisa. Não sei se acaso ou não. A verdade é que me marcou este vaguear vagabundo. Fez-me pensar o quão é triste esta nossa sociedade e o quão é triste o egoísmo que vivemos e o quão é triste a falta de amor para com os outros e para connosco próprios.

segunda-feira, março 07, 2011

O Campo


Ver-se a si próprio é dor, mais do que a do amor.

Partem-se todos os espelhos para se deixar de ver. Arranca-se de dentro tudo o que corrói. Dói. Mas como qualquer dor difícil, também esta se perde. E então, teremos coragem de voltar a olhar olhos nos olhos o nosso interior. Sem mágoa e com a nudez própria de uma recomposição. Livres, outra vez, e músicas e silêncio presentes.

Há sempre um campo a voltar, um laço a perdurar. Por mais tempo que o relógio conte, o tempo pára quando a pilha enfraquece, mas nem sempre se consegue ouvir este silêncio.


P.S. *Hoje o silêncio é este: http://www.youtube.com/watch?v=PYhG8DAFf1c&feature=related

sábado, fevereiro 19, 2011

Por onde? Para onde?


Tudo leva tempo de recordar.

Meia dúzia de palavras e é para sempre.

Postais por escrever.

Imagens ainda não vividas.

Fica tudo guardado à espera de bilhetes de aviões, barcos, comboios, bicicletas, pés.

Um dia, sim, um dia, vou passar por onde tantos já visitaram.


P.S. *Para onde é o caminho?

terça-feira, fevereiro 15, 2011

You exceed

Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.Antoine de Saint-Exupéry


E hoje não tenho mais palavras que mostrem como me sinto. Apenas sei que hoje choveu e que a chuva é a música. Sempre sonante e de sorriso verdadeiro, recordar-te-ei. You exceed!


sábado, janeiro 29, 2011

Causalidade


Hoje há assim esta pequenina longitude entre nós. Sabes, por acaso, a quantas horas de pensamento estamos distantes? As mesmas que existem numa imortalização de braços abertos, numa penumbra que tende para infinito. São, na verdade, uma inequação demasiado complexa que tenho andado a tentar resolver. Cálculos, mais cálculos e horas de vida passadas a olhar para incógnitas, como se elas pudessem ganhar vida ou cor com o meu olhar. Há sempre uma relação de causalidade entre as variáveis. Talvez entre “x” e o “y” seja mútua. Ainda não consegui chegar à demonstração de resultados. Reformulo a inequação e continuo a tentar. Vou-me cansar deste problema e vou guardá-lo no caderno dos “problemas ainda por resolver”. Vou dormir e sonhar com a resolução. Se ela existir e não for imaginária, acordarei de noite num ímpeto alegre e chegarei à conclusão que o resultado não é um número, mas uma palavra.


P.S. Porque há sempre tantas letras no meio de tantos números... e eu gosto destas matemáticas.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Numa folha branca


É a partir daqui que escrevo. Tantas palavras. E olho. Tão dentro.

Não ando em compasso de espera, espero-me apenas a mim. Conduzo-me por esta casa silenciosamente e vou à procura de histórias. Há muitos livros nesta casa. Mas não encontro o que me pertence. Talvez as histórias tenham fugido dos livros com medo de serem encontradas e lidas e sofridas e amadas. Há algo que me atrai mais longe, pequenas notas musicais desenhadas em partituras minimalistas. Estão a lápis. Adivinho um rascunho. Continuo a observar e atrás de mim está um piano e uma guitarra. Interrompo o silêncio com um breve verbo e há acústica. Faltam as vozes.

É a partir daqui que escrevo. Destas folhas brancas que encontrei neste chão. Umas estão brancas, outras escritas por mim, outras brancas e escritas por alguém. Há histórias nestas folhas e ainda que eu não as veja, sei que cá estão.

Numa folha branca há sempre mais do que se imagina. Talvez as vozes ajudem, talvez…