O tempo tem as voltas certas no relógio invisível que me
acompanha. Este ano as voltas foram muitas e os segundos de vida foram horas de
silêncio. Estive na margem de rios e à margem do meu próprio rio. Estive
sentada, como espectadora. O barco estava sozinho e seguia de modo
imprevisível. Não tinha vontade de remar nem de ir com a corrente. O sentido
contrário sempre me aliciou mais. Por mal, verdade seja dita. Pensava numa
estratégia, mas não conseguia. A certeza de ter que voltar ao barco,
bloqueava-me a luz da lógica natural do meu raciocínio. Os “como queria
demonstrar” esqueceram-se de mim, e os planos que detalhei voaram. Tentei
apanhá-los, em vão. Mantive-me quieta, e vi sonhos a serem arrancados com uma
pedra. Com uma pedra que seca a água de rios. Como se os absorvesse todos
dentro dela. Uma pedra de dor. Uma pedra feita de um buraco negro. Que aglutina
a luz.
Foi à margem que vos acenei para sempre. Parti para um outro
rumo, sem a certeza dos meus sonhos, das minhas vontades. Parti, porque era
hora e estava a ficar noite. Não vou com a corrente, mas também não vou contra
ela. Percebi que é possível navegar por entre as duas e chegar no tempo certo
ao propósito.
E o relógio continua. Agora, as horas de vida são horas de
crescer.
P.S. The Sun, The trees :) http://www.youtube.com/watch?v=6oTJmiQ1eRE