(foto de minha autoria)
Falem-me das coordenadas que tatuaram.
As minhas são à janela. À janela do meu quarto, aquela onde
me sento no parapeito a olhar para duas borboletas brancas, para uma serra
verde, para três céus, um de chuva, um de sol e outro cor-de-rosa. Por aqueles
vidros vejo tudo, sonho tudo. As histórias são todas perfeitas. Gostar é
suficiente. O mundo é inocente.
Volta e meia, abro a janela. Sinto o vento levante que se
chama à razão de ser. É o de levante, como a música da orquestra que oiço. Que
me diz que não vale a pena perdurar com a janela aberta. O melhor é olhar cada
vez mais distante através dela.
Há dias em que faço esse exercício: olho o mais longe que
consigo. Há vezes em que vejo cavalos a descer pela encosta com alguém a me
acenar. Eu sorrio e fico assim, à espera do desaparecimento da imagem, para
voltar a sonhar. Na verdade, o cavalo nunca chega, porque volta para trás. Chega-me
um pequeno passarinho à minha mão. Traz-me um bilhete. São as palavras que
escrevo no meu coração. De onde ele as descobriu?
Há dias em que faço outro exercício: olho o mais perto que
consigo. Vejo o reflexo dos meus olhos naquele vidro. Ficam lá gravados e à
noite quando paro de olhar, e vou dormir, há um mocho copista que lê tudo o que
os meus olhos dizem. Escreve os meus textos, como se eu lhos tivesse a ditar,
naqueles bilhetes. Depois distribui àquele pequeno voador para me deixar
inspirada com o meu próprio ser.
Então, é assim. É através da janela que para mim acontece,
não sou eu quem planeio. Mas, sou eu quem decide a cor do céu.
E vejo tanta vida dentro de mim.
P.S. Dear Believer: https://www.youtube.com/watch?v=CvgVQu2RTwU