É em dias como este que eu queria uns óculos diferentes. Ao
invés de ver melhor, com mais nitidez o mundo, via-o com outras cores e com um
astigmatismo pop.
As lágrimas a correr passariam a sorrisos. Os pensamentos
monocromáticos pretos passariam a optimismo puro.
Para quê a canseira destes tempos? Para quê a vontade de
querer fazer mais e melhor? Para quê não guardar trunfos até, até à última,
última jogada?
Se hoje sair à rua com os meus óculos, vou ver tudo pior.
Seres humanos sem tecto, sem comida, sem alma. Ares poluídos física e
psicologicamente. Falta de inteligência. Filhas-putices na esquina da rua da
louça ou nas outras a seguir, a seguir.
Ontem, ofereceram-me uns óculos usados. Década de sessenta. Traziam
como inscrição: “usar quando precisares de sonhar”. Não os experimentei. Por
isso, fiquei surpresa quando hoje me vi neles. Fiquei bonita e com as faces
ainda mais rosa.
À minha volta tudo ganhou umas tonalidades azuladas,
amareladas, de desenhos animados requintados, como se todos estivessem no seu
direito de “5 minutos para a fama”.
Eu não quero ter fama de vedeta. Quero ser apenas eu, eu
mais, eu melhor, eu crescer. É para isto que vou continuar a ir, ir. E agora
melhor acompanhada.
Os óculos já estão na minha mala.
P.S. O Andy Warhol teve uns óculos destes e via o mundo bem
mais bonito. Não andava sempre com eles, para não cansar os olhos. O modo de
prescrição já foi dito.
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