terça-feira, junho 10, 2014

Óculos à Warhol

É em dias como este que eu queria uns óculos diferentes. Ao invés de ver melhor, com mais nitidez o mundo, via-o com outras cores e com um astigmatismo pop.

As lágrimas a correr passariam a sorrisos. Os pensamentos monocromáticos pretos passariam a optimismo puro.

Para quê a canseira destes tempos? Para quê a vontade de querer fazer mais e melhor? Para quê não guardar trunfos até, até à última, última jogada?

Se hoje sair à rua com os meus óculos, vou ver tudo pior. Seres humanos sem tecto, sem comida, sem alma. Ares poluídos física e psicologicamente. Falta de inteligência. Filhas-putices na esquina da rua da louça ou nas outras a seguir, a seguir.

Ontem, ofereceram-me uns óculos usados. Década de sessenta. Traziam como inscrição: “usar quando precisares de sonhar”. Não os experimentei. Por isso, fiquei surpresa quando hoje me vi neles. Fiquei bonita e com as faces ainda mais rosa.

À minha volta tudo ganhou umas tonalidades azuladas, amareladas, de desenhos animados requintados, como se todos estivessem no seu direito de “5 minutos para a fama”.

Eu não quero ter fama de vedeta. Quero ser apenas eu, eu mais, eu melhor, eu crescer. É para isto que vou continuar a ir, ir. E agora melhor acompanhada.

Os óculos já estão na minha mala.


P.S. O Andy Warhol teve uns óculos destes e via o mundo bem mais bonito. Não andava sempre com eles, para não cansar os olhos. O modo de prescrição já foi dito.

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