quinta-feira, maio 14, 2009

Eu velho, tu criança


O tempo é marcado pelas nossas duas vidas. Eu velho, tu criança. Levo-to como se me pertencesses e como se eu pertencesse a alguém. Talvez pertença ao caminho percorrido, que tu olhas com admiração ou talvez pertença às raízes das árvores que me acompanharam sempre. Tu pertences a ti mesmo, à simplicidade do teu olhar, à inocência das tuas palavras, à rebeldia dos teus actos. És uma criança que corre mais do que aquela bicicleta que eu usava para te ir buscar, mais até do que a corrente daquele rio que nascia bem perto da minha casa.
Hoje sinto-me a desequilibrar na bicicleta, as minhas pernas estão pesadas e estou sem forças para prolongar o teu ritmo de vida… Talvez pudéssemos trocar de papéis: tu conduzes-me e eu deixo-me conduzir. Mas, saberás o destino que tenho que tomar? Mesmo criança, saberás que é longínquo, mas também saberás que o assobio do vento, os suspiros da lua e os sorrisos do Sol te levarão sempre até mim. Basta sentires tudo isto enquanto pegas na minha bicicleta e me vês atrás de ti ou à tua frente. Sei, que haverá dias que serei eu a levar-te para casa e haverá outros que serás tu a levar-me para o céu.


A linha do teu olhar cruzar-se-á sempre com a minha naquela que é o fim da linha do nosso tempo. Eu velho, tu criança.

3 comentários:

Anónimo disse...

"Tudo é mudança.Tudo é vida." Muito bem.



Poeta:)

Anónimo disse...

sem palavras

escreves tão bem, cada vez que leio os teus textos dá-me arrepiozinhos de frio

Continua sempre assim

beijinhos da ana (de Lisboa)

Ângela Peça disse...

...em cada um existe um pouco de velho e um pouco de criança como retratas...
...as tuas palavras como que se convertem em estórias encantadas que se tornam reais na nossas vidas...
...obrigada por semeares o sonho de sonhar através das tuas palavras:)

Ângela Peça