domingo, outubro 31, 2010

Parede de vidro


Só uma parede de vidro nos separa.

Vejo-te a cair devagar, com força, devagar outra vez. Levantas-te e evaporas. Fazes barulho e fazes-me pensar e lembrar o que já foste: simples vento a rodopiar em folhas de palmeiras altas. Adormeces-me a sussurrar “Era uma vez...”. Nunca oiço as histórias até ao fim; sei apenas: se a história tiver um final cinzento, o dia será cinzento; se a história tiver um final branco, o dia será de luz. Às vezes acordas-me com pequenos plins. Às vezes, assustas-me e tenho medo; escondo-me em mil mantas e rezo para que te vás embora rápido. Outras, contemplo-te e saboreio-te; olho para ti olhos nos olhos e sinto que fazes parte desta Natureza-Mãe e que és vida.

Só uma parede de vidro nos separa.

Serás grande e partirás este vidro, invadirás todo o espaço e eu boiarei nesse mar. Poderei sentir-te na pele. Irás desfazer-te assim que te tocar com as minhas mãos, mas sei que és real, mesmo sendo transparente. Sonatas de chuva tocarás para sempre e eu irei sorrir e bailar com a tua música.

Gosto de chuva, mas não gosto de paredes de vidro.

4 comentários:

Ângela Peça disse...

não gosto da chuva molhada e triste
não gosto de dias chuvosos, porque são molhados e tristes
mas gosto do encanto das tuas palavras de chuva...não são tristes...são esperançosas
e eu gosto de esperança...já te tinha confessado?:)

Longe do Mundo... disse...

sinto um frio de doença subita na alma_Bernardino Soares

Joana disse...

tb gosto de chuva... se um vidro me separar dela!

(sim! ja tirei! ;))

ser.so.ser disse...

Pelos vistos não me lembrava, não me lembro muitas vezes de muita coisa. E às vezes acho que nos esquecemos vezes demais de nos deixarmos encontrar não só em nós, mas dentro e naquilo que os outros são. Porque os que por nós passaram são um bocadinho de nós, e nós somos um bocadinho deles. (sim pode ser lido nos dois sentidos) portanto não corras mais, desliza :)