Percorrer o deserto, o sol, à procura do interior.
Do monólogo cerrado entre dentes e memórias, a cada dia, a
cada quilómetro vamos sabendo um pouco mais. O que não queríamos voltar a
pensar, a lembrar, envolve-nos até termos coragem de parar e aceitar, de parar
e perdoar.
Aquele caminho era um exercício de perdão. De perdão pelos
erros. Pelos erros de luto. De luto desde sempre. A história começa a acontecer
mal se nasce. Se se é ou não é amado. Num misto de tantos acasos, há quem se
perca. Sem luz não se consegue encontrar de novo o caminho de casa, da casa que
é mesmo casa, com paredes e afecto.
Depois, há aqueles que sabem que erraram em tanta coisa. E decidem
ir. Ir com a mochila pesada, como a alma deles. Ir e a cada dia a mochila ficar
mais leve, por se arrancar páginas de livros. Ir e cada dia a convivência com o eu próprio ser mais pacífica. Ir e
aceitar que somos frágeis. Ir e perceber que este caminho tem que ser feito
sozinho.
É esta solidão que nos leva ao que procuramos. É esta
solidão que faz de novo aquecer a casa que pensávamos já estar destruída. É esta
solidão que faz crescer.
No fim, chegar a uma ponte. Uma ponte que liga duas margens.
Uma ponte de deuses que vão dando sinais. Uma ponte que a cada passo dado nos
diz que os passos passados seriam dados da mesma forma. Com esta certeza,
chegamos ao lado de lá. Livres. Com a procura do interior perdoada.
E o sol continua a brilhar.
P.S. Do filme Wild.
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