domingo, fevereiro 08, 2015

Percorrer o deserto

Percorrer o deserto, o sol, à procura do interior.

Do monólogo cerrado entre dentes e memórias, a cada dia, a cada quilómetro vamos sabendo um pouco mais. O que não queríamos voltar a pensar, a lembrar, envolve-nos até termos coragem de parar e aceitar, de parar e perdoar.

Aquele caminho era um exercício de perdão. De perdão pelos erros. Pelos erros de luto. De luto desde sempre. A história começa a acontecer mal se nasce. Se se é ou não é amado. Num misto de tantos acasos, há quem se perca. Sem luz não se consegue encontrar de novo o caminho de casa, da casa que é mesmo casa, com paredes e afecto.

Depois, há aqueles que sabem que erraram em tanta coisa. E decidem ir. Ir com a mochila pesada, como a alma deles. Ir e a cada dia a mochila ficar mais leve, por se arrancar páginas de livros. Ir e cada dia a convivência com o eu próprio ser mais pacífica. Ir e aceitar que somos frágeis. Ir e perceber que este caminho tem que ser feito sozinho.

É esta solidão que nos leva ao que procuramos. É esta solidão que faz de novo aquecer a casa que pensávamos já estar destruída. É esta solidão que faz crescer.

No fim, chegar a uma ponte. Uma ponte que liga duas margens. Uma ponte de deuses que vão dando sinais. Uma ponte que a cada passo dado nos diz que os passos passados seriam dados da mesma forma. Com esta certeza, chegamos ao lado de lá. Livres. Com a procura do interior perdoada.


E o sol continua a brilhar.


P.S. Do filme Wild.

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