As cores do natural coabitavam num universo tão próprio de colorações que eram capazes de falar mais do que humanos com capacidade retórica. Os olhos, cinzentos como a cinza, entendiam esta mutação artística e faziam-na desfrutar, momento a momento, o que percebia pelo olhar. Os sons também se alteravam com a direcção do vento: eram melosos e prezados e faziam-na levitar num oceano de utopia. Percorria aquela estrada, de pó capaz de cegar, sem desejo de chegar ao último quilómetro. Os passos eram pequenos, os intuitos tão grandes. O tic-tac do relógio estava abafado pelo espaço, e o tempo transformava-se num elemento inexistente à vida, como se fosse possível.
Das possibilidades, passa a ter como condiscípulas de jornada as impossibilidades. Quando deixava de sentir a brisa a bater-lhe na cara, notava que já lhe tinham aberto a porta do mundo real. Tudo se desvanecia ao querer dela. Agora, os passos eram grandes e os intuitos tão pequenos. Os sorrisos das flores e o canto das nuvens escondiam-se neste mundo e perdiam-se pelos labirintos tão comuns. Chamavam-na, em silêncio para ninguém ouvir, e convidavam-na a percorrer os caminhos que tinham descoberto para o outro tal mundo. Ela queria… mas o dever imperava.
À noite, a realidade dormia sem sonhos e ela atrevia-se a fazer o caminho de todas as manhãs, acompanhada pela luz mágica da Lua. Voava e acreditava.
Era um refúgio, era uma salvação. Era ela a inventar cores e maresias e fantoches benfeitores.