terça-feira, setembro 02, 2008

Intuitos


As cores do natural coabitavam num universo tão próprio de colorações que eram capazes de falar mais do que humanos com capacidade retórica. Os olhos, cinzentos como a cinza, entendiam esta mutação artística e faziam-na desfrutar, momento a momento, o que percebia pelo olhar. Os sons também se alteravam com a direcção do vento: eram melosos e prezados e faziam-na levitar num oceano de utopia. Percorria aquela estrada, de pó capaz de cegar, sem desejo de chegar ao último quilómetro. Os passos eram pequenos, os intuitos tão grandes. O tic-tac do relógio estava abafado pelo espaço, e o tempo transformava-se num elemento inexistente à vida, como se fosse possível.
Das possibilidades, passa a ter como condiscípulas de jornada as impossibilidades. Quando deixava de sentir a brisa a bater-lhe na cara, notava que já lhe tinham aberto a porta do mundo real. Tudo se desvanecia ao querer dela. Agora, os passos eram grandes e os intuitos tão pequenos. Os sorrisos das flores e o canto das nuvens escondiam-se neste mundo e perdiam-se pelos labirintos tão comuns. Chamavam-na, em silêncio para ninguém ouvir, e convidavam-na a percorrer os caminhos que tinham descoberto para o outro tal mundo. Ela queria… mas o dever imperava.
À noite, a realidade dormia sem sonhos e ela atrevia-se a fazer o caminho de todas as manhãs, acompanhada pela luz mágica da Lua. Voava e acreditava.

Era um refúgio, era uma salvação. Era ela a inventar cores e maresias e fantoches benfeitores.

2 comentários:

pulguita disse...

as vezes nao chega voar e acreditar que a realidade pode mudar...as vezes nao chega acreditar numa realidade diferente onde os sonhos e as cores existem...as vezes nao chega acreditar...as vezes temos de nos juntar ao habitual...ao rotineiro...a vida sem sonhos nem ilusoes...as vezes temos de viver com os pes colados a terra!as vezes nao basta querer...porque esse querer vai ser abafado por uma critica mais dura e do mundo do real...as vezes é preciso os outros acreditarem numa manha diferente e igual a tua...as vezes é preciso que os outros saibam quem es para tu saberes quem es...as vezes é so preciso alguem acreditar que a tua estrada existe...mas que nao é real...mas exite porque tu dizes que ela existe e alguem vai acreditar em ti!

Anónimo disse...

Ela vivia no extase todos os dias.
Mesmo que, por pequenas efemeridades.