segunda-feira, setembro 03, 2012

São as horas que nos separam


(Imagine-se o tempo em desagregação)


São as horas que nos separam. Numa desculpa ridícula de que o tempo é causador de insónias. Agora é hora de eu ir dormir como as crianças pequenas. Agora é hora de tu acordares como as pessoas grandes. Qual é a diferença destes tempos? Um lê a história para outro adormecer. Não há uma simbiose quase perfeita? Um desejo de se adormecer com vontade de sonhar com finais felizes? 

Aquela rua inspira-me, com o Sol a bater-me na cara. Sei que é tarde e sei que são as horas que nos separam. Como se houvesse um fuso horário nos nossos relógios. Como se aquela rua só existisse para mim e para os meus passos e para os meus pensamentos. Quantos textos já escrevi nela a voar? Em quantas pessoas já vi histórias que podia inventar?

Vou a correr sempre e vejo-te a ti bem devagar, sem a pressa de outros tempos. Aquela rua também tua todas as manhãs num trajecto que não sei. Apenas vejo a dificuldade e a persistência da tua história. Ainda é tempo de viver, dizes-me tu em silêncio, pelo teu olhar fixado nos chinelos enormes e nas mãos disformes. 

Que ninguém se ria de ti e do que és. Evaporas-te também numa rua só tua e imagino-te a voar. Já não te vejo mais e sei que são as horas que nos separam, numa distância que o tempo, que antítese, há-de resolver. 

Hoje são apenas umas horas, amanhã uns dias. E quando forem os anos, aquela rua já não existirá.

P.S. A música que deambula com os meus passos... http://www.youtube.com/watch?v=F8XzQRhvGjQ

1 comentário:

Ângela Peça disse...

O meu comentário não poderia ser outro: "Faz revirar o tempo..." :)